quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Prefácio para Luciano Siqueira

E se aqui estamos cantando esta canção
viemos defender a nossa tradição
e dizer bem alto que a injustiça dói.
Nós somos madeira de lei que o cupim não rói.”
(Capiba)

Imagens de Luciano Siqueira rodando na memória. Movimento estudantil, prisão política em Itamaracá, sucursal do jornal Movimento, passeatas, comícios, confraternizações, bate-papos, festas e funerais de companheiros. Escrever este texto é um ato de dever e prazer, assim como o serão o voto e o empenho na próxima batalha eleitoral, para fazer de Luciano senador de Pernambuco.

Aristóteles disse que o homem é um animal político. E Luciano, nas suas crônicas, nos mostra que o político é um animal humano. Escritas para o jornal eletrônico do PCdoB, elas expressam o cuidado constante com as coisas da estratégia e da tática. Mas não apresentam as marcas da secura racionalista, tantas vezes presentes em discursos militantes. Neste seu segundo livro, o cronista Luciano contraria o poeta Drummond, revelando que é um homem de partido, mas não é um homem partido.

As questões da agenda política são tratadas por Luciano numa tessitura em que, no campo dos objetivos e das disputas, o jogador está sempre em sintonia com os anseios da torcida, trabalha pelo seu time e não comete falta contra os adversários, buscando a vitória limpa. O que se complementa com os colóquios dos intervalos e dos depois, quando afloram as rememorações/reflexões em torno de partidas antigas/recentes/futuras. É neste universo que florescem as crônicas de Luciano.

Com um saudável hálito humanista, aquecido por um toque poético, ele trata das questões políticas e dos assuntos militantes como de coisas normais da vida, em que se enovelam idéias e sentimentos, causas e casos, marchas e desfiles, caminhadas e danças, esperanças e agonias, protestos e confraternizações. Em alguns momentos, predomina a iluminação dada pela racionalidade e o bom senso, com o foco nos interesses gerais e na unidade política. Em outros, as ondas da emoção tomam conta. Quando, por exemplo, o jarro de porcelana do amor cai em cacos. Ou quando se cultivam, se colhem e se ofertam rosas vermelhas.

Luciano tem dificuldade em lidar com o eu, termo que não aparece em nenhum momento nas suas crônicas, sempre substituído pelo nós, que se impõe como um verdadeiro “excesso de exagero”. Em parte, resultado de uma timidez confessa. Em parte, certamente, marca censórea do superego político - velhas armaduras militantes em que, na preocupação de impedir o personalismo, se fechava o espaço à individualidade. Assim como o eleitor quer apertar a mão do candidato, o leitor quer sentir de perto o coração do escritor. Calçando agora as chuteiras literárias, o jogador Luciano Siqueira terá que se despojar mais e atender a este anseio da torcida. Porque, companheiro, é perfeitamente possível - sem incorrer em “desvio pequeno-burguês” - articular os anseios gerais e as impressões digitais.

Para quem acredita na floração dos girassóis vermelhos, o livro de crônicas e a crônica de vida de Luciano Siqueira revigoram a certeza de que, com erros e acertos, é possível passar de jovem a senhor, de pai a avô, mantendo a sintonia com os anseios do povo e negando os becos sem saída do adesismo, trilhando as vias centrais e procurando unir vaga-lumes e estrelas.

Recife, abril de 2006

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